sábado, 3 de dezembro de 2011

As perguntas do homem e a resposta de Deus (reflexão)

As perguntas do homem e a resposta de Deus

   Todos sabemos que algo sumamente misterioso existe por detrás do querer de Deus e de sua ação relativamente à Criação, desde os confins da eternidade passada até aos confins da eternidade por vir.
    Algo por demais sério e justo e responsável.
   Algo que, uma vez apenas vislumbrado, deveria calar sumariamente nossos questionamentos e indagações a respeito dos mistérios da vida, do porquê da Criação, do porquê da permissão de Deus para que o pecado passasse a existir, do porquê das dores da humanidade  — dores que vão das físicas, que machucam de bebês a anciãos nos quatro quadrantes da geografia e da história em variados níveis de intensidade, às da alma e do espírito, seja nas angústias do presente seja no sofrimento da perdição eterna na distância dorida do Deus para cuja proximidade foram anjos e o homem criados.
    Algo que deveria silenciar nossa ousadia de querer perscrutar, além dos limites estabelecidos, a mente de Deus diante dos mistérios parcialmente revelados (ou simplesmente informados) e querer achar respostas racionais para questões tais como eleição para salvação “versus” condenação, livre arbítrio, responsabilidade ou não da parte dos que jamais tiveram chance de ouvir da Revelação falada e escrita e tomar conhecimento da Revelação encarnada de Deus, enfim, respostas às perguntas que, atônito, o homem sempre tem levantado.
   Esse algo, a resposta que sabemos existir por detrás de tudo isso, nada mais é, nada menos, que o próprio Deus. Sendo ele a um tempo trino e uno, não há falar, no contexto desta reflexão, no Pai em compartimento estanque ao do Filho e tampouco ao do Espírito. Por isso falamos no Deus trino-uno como sendo esse algo misterioso que, no final das contas, e mesmo sendo ele misterioso em si, traz resposta aos grandes questionamentos existenciais da humanidade. Isso, não obstante nossos olhares como que divisarem o Filho como a resposta, uma vez que, por sermos nós espírito e matéria, nele a resposta se materializou diante de nossos olhos.
   Ora, com a Queda  — permitida por Deus em seus misteriosos propósitos e decretos —, a vida do homem ficou de tal modo contaminada pela injustiça, que os sentimentos, pensamentos, atitudes e ações da humanidade passaram, sem exceção, a trazer a marca dessa injustiça, injustiça essa que veio a permear a vida de todos seus representantes, ora em maior ora em menos escala, ora em poucas ora em muitas áreas da vida. Em suma, poder-se-ia dizer que a vida sobre a face da terra, não obstante ter sido criada pura e santa e boa, ganhou a coloração de injusta, isto é, passou a trazer a marca da injustiça. Isso apesar do fato de que Deus  que é o criador da vida e é reto e justo em todos os seus caminhos   é imutável e continua e continuará justo pelos séculos eternos.
    E, nesse contexto, a vida humana foi injusta até mesmo com o autor da vida, Cristo  — ele próprio fonte da Vida —, e sobre isso não há sequer necessidade de tentar argumentar: mesmo na limitadíssima óptica humana ficam patentes e inquestionáveis a profundidade e a intensidade do sofrimento do Filho. E foi seu sofrimento o que presenciamos, que enxergamos, tendo nós, humanidade, sido veículos na concretização da injustiça que a vida impôs ao Filho.
    Ainda que esse sofrimento que vimos com nossos olhos fosse o do Filho, ainda assim ele atingiu o Pai e o Espírito Santo, não só porque os três são um, no também insondável mistério da Trindade santa; mas também porque a Revelação nos fala da dor do Pai (Ez 33.11) e fala da dor do Espírito (Rm 8.26)  — como pessoas distintas na Trindade —  no contexto da Queda e da Redenção.
    Ora, imaginar que Deus  — onisciente que é, sabendo portanto de antemão que a Criação implicaria sofrimento alheio e a dor dele próprio —  agiu nesse contexto por um mero capricho seria admitir ser ele a um tempo sádico e masoquista, o que se constituiria no mais inominável dos absurdos, porquanto Deus é amor (1 Jo 4.7) e é perfeito em todas as suas obras (Sl 139.14) e em todos os seus caminhos (Sl 18.30), e no amor e na perfeição não há lugar para comportamentos anômalos.
   Se a obra da Criação abrange, como um todo, o desdobrar dos acontecimentos que culminaram nos pontos objeto de todos os questionamentos a respeito da razão de Deus criar  — do modo como criou, e permitir, como de fato permitiu, o desenrolar dos acontecimentos na esteira da história tal como a vemos —,  questionamentos todos esses levantados pela humanidade ao longo dos séculos e milênios, sim, se tudo foi e é e será do jeito como foi e é e será, aí então se deve voltar para a assertiva inicial de que há, além do que conhecemos, algo misterioso e justo e responsável por detrás do querer de Deus e de sua ação relativamente à Criação.
   Conseqüentemente, há que concluir que o que existe por detrás de tudo isso é absolutamente insondável por nossas mentes finitas, limitadas, caídas, mas que leva a um ponto tal que, sobre dizer ao homem: “Não vás além! É mistério escondido em Deus!”, também lhe diz: “Achas, ó homem, que tudo é como é por um mero capricho do Deus todo-poderoso? Achas que Deus foi injusto em algum de seus pensamentos e de seus feitos? Não percebes, ó homem, que em todo esse contexto sobressai a figura de Cristo como resposta a todas indagações? Pensas que não doeu no coração do Pai e do Filho e do Espírito Santo  — no coração do Deus trino e uno —  o humilhar-se e o sofrer infinitamente profundos do Filho na cruz para fazer a Redenção de pelo menos parte da Criação? Achas que Deus estava como que brincando quando fez algo cujo desdobramento implicaria necessidade de ele próprio sofrer, e sofrer tanto? Afinal, a Criação implicava possibilidade da Queda, e a superação da Queda implicava necessidade da dor e sofrimento do próprio Criador. Por conseguinte, mesmo o raciocínio humano pode dizer que o querer e o agir de Deus foram absolutamente responsáveis e justos. Afinal, ele próprio sofreu as agruras da Queda, ele próprio foi justiçado, ele próprio foi humilhado. Com sua onisciência e seu poder, Deus poderia, se quisesse, simplesmente não executar a Criação, já que isso lhe traria, a ele próprio, tão profunda dor e humilhação. Mas, se o fez, e se a criatura veio a cair, tudo poderia ser resumido em afirmar-se que havia um motivo muito sério e responsável para Deus criar, que em nossa limitação não conseguimos vislumbrar, tudo isso por razões que não sabes, ó homem, pois se soubesses estarias disputando um lugar de igualdade com Deus, e a ti se te diria, qual na profecia contra o rei de Tiro: ‘Apesar de seres homem e não Deus, alimentas, em teu coração, pretensões divinas’ ” (Ezequiel 28.2c, em A Bíblia de Jerusalém).

                                                                                              A.C.W.C.de Azeredo

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