quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Minha Campos tem palmeiras...

         


Minha Campos tem palmeiras
que correm enfileiradas, duas a duas,
pelas bandas do Matadouro,
enquanto olham o Paraíba ali defronte.
Minha Campos tem uma igrejinha branca,
no lugar onde o rio faz uma curva larga.
Minha Campos tem uma imitação de cais,
onde as pranchas aportam
para despejar a areia tirada do fundo do rio.
Minha Campos tem carroças de duas rodas,
puxadas por mulas pacatas,
que descem pelas rampas da beira do rio
para pegar a areia que as pranchas trouxeram:
"O Sol nasce para todos".
Minha Campos tem uma charrete,
com um tonel branco atrás,
em que Seu Souza leva leite para a freguesia.
Minha Campos tem uma carrocinha de mão,
em que um velho murchinho
vende verduras também murchas.
Minha Campos tem uma bicicleta
com uma cesta cheia de pães na garupa.
Minha Campos tem um ônibus amarelo,
que leva as crianças à roça, nas férias de junho,
e um trem de fumaça, que as transporta no fim do ano a Atafona.
Minha Campos tem bondes abertos,
em que os fiscais olham, num espelhinho,
os números que os cobradores escrevem no relógio preto lá atrás.
Minha Campos tem um cinema
com uma campainha na frente,
que toca para avisar o começo da sessão.

Não sei porquê...  é do feitio do tempo mudar o rosto das cidades
e apagar imagens que, apesar disso,
teimam em permanecer intactas nos escaninhos de nossas recordações...

                             A.C.W.C.de Azeredo

                             Brasília, março/84